
A pergunta celebrizada um dia, na sala de imprensa do Estádio do Dragão, por Luiz Filipe Scolari é daquelas ideias que nunca passa de prazo no futebol português. Há sempre motivos para recuperar a expressão do antigo selecionador nacional quando se percebe a forma leviana como tantas vezes se analisa o jogo – e os jogadores – no nosso país. Peguemos, por exemplo, no caso de Francisco Trincão.
O extremo do Sporting está, aos 25 anos, a fazer a melhor temporada da carreira. Soma 11 golos e 13 assistências, tem 4.045 minutos acumulados e, entre Sporting e Seleção, já leva 49 jogos nas pernas em 2025/26. Foi ele que, recentemente, acabou por ser decisivo para a qualificação de Portugal para a fase seguinte da Liga das Nações, como também tem sido ele o desbloqueador de muitos problemas na equipa de Rui Borges.
Já tinha sido assim, aliás, com Ruben Amorim – quer na temporada do título (2024/25), quer nas 11 primeiras jornadas desta Liga. E até foi assim, imagine-se, com João Pereira, que somou apenas uma vitória na Liga durante o tempo em que esteve no banco dos leões e mesmo essa ficou a dever-se a Trincão: vitória por 3-2 frente ao Boavista, com dois golos apontados pelo esquerdino.
Ora, as vistas curtas de alguns adeptos ‘famosos’ e comentadores associados ao Sporting levou a análises a roçar o surrealismo após o recente empate frente ao Sporting de Braga (1-1) na última jornada, com a frustração de alguns ‘incendiários’ a cair precisamente em cima de Trincão, responsabilizando-o pelos dois pontos desperdiçados.
Em que baseiam, estes especialistas, a sua análise? Dizem, imagine-se, que o Sporting “não pode ter um campo um jogador que passa o tempo a pentear o cabelo…” E dizem outros que “Rui Borges não pode ser responsabilizado por Trincão não passar a bola a ninguém”. Não é difícil concluir que isto não é comentário sério nem sustentado: é só descarga emocional, à mistura com má-fé, de quem não soube lidar com a perda da liderança.
Apontar o dedo a um “responsável” é sempre a parte mais fácil. O mais difícil, depois, é sustentar o que se diz. E, claramente, falta conhecimento específico a alguns “notáveis” que falam frequentemente sobre futebol no espaço público. Ouvir um antigo Presidente da Liga dos Bombeiros falar sobre um jogo de futebol tem basicamente o mesmo valor que ouvir um antigo jogador de futebol falar sobre as tarifas aplicadas por Trump e o impacto dessas medidas na economia mundial.
Para os que não perceberam o desempenho de Trincão frente ao Sporting de Braga – e também para os que não quiseram perceber – fica o registo estatístico dessa noite: para duas plataformas de referência (GoalPoint e SofaScore), Francisco Trincão foi apenas… o melhor jogador do Sporting em campo.

No GoalPoint, o número 17 dos leões justificou a nota 7.6, enquanto o segundo mais pontuado dos leões se ficou pelos 6.3 (Quenda). Aliás, de todos os jogadores em campo, apenas um – o guarda-redes do Sporting de Braga, Hornicek – conseguiu fazer melhor: 7.8.
No SofaScore, a situação repetiu-se e foi, até, ainda mais favorável a Trincão: teve a nota mais alta de todos os jogadores que pisaram o relvado de Alvalade, com 7.9. Em segundo lugar, Hornicek, com 7.7. Entre os leões, os que mais se aproximaram foram Gyokeres e Quenda, ambos com 7.5.
Dir-me-ão: as estatísticas valem o que valem. E é mesmo isso. Valem o que valem. São suportadas por critérios objetivos, que não “vêem” tudo, mas tem capacidade de “medir” (não avaliar, atenção) o número de ações positivas e negativas de um jogador em determinados parâmetros pré-definidos.
Em ambos os casos, Trincão foi o melhor do Sporting. Para alguns adeptos, o problema foi ele. Caso para voltarmos à pergunta de Scolari: e o burro sou eu?






