A importância da Liga Revelação

Regressei ao Futebol Clube Famalicão na temporada de 2019/20 para assumir as funções de treinador da equipa Sub-23, que participava na 2ªedição da Liga Revelação. Foi um projeto que me cativou pelo desafio de ‘potenciar talento’. Conhecia o clube – havia passado por lá em 2016/17, então como diretor desportivo – e sabia da transformação que a chegada da SAD estava a operar, o que, aliado ao fervor dos adeptos, fariam crescer o Famalicão.

Entrei com a época já em curso, com a equipa sem vitórias, mas com objetivos muito claros: desenvolver atletas, formar e criar potencial para valorizar. E valeu a pena!

Mais valias financeiras

No início desta temporada, 2024/2025, dois atletas dessa equipa foram transferidos com mais valias financeiras para FC Famalicão e AVS, com a venda dos passes de Luiz Júnior para o Villarreal e Clayton Sampaio para o Internacional de Porto Alegre.

O Clayton veio pela primeira vez para Portugal para jogar nos Sub-23 do FC Famalicão. Não foi aposta na equipa principal, fez o seu trajeto até chegar à 2ª Liga, onde representou o Nacional da Madeira e o AVS, e gerou uma transferência de €1,2M para o Internacional.

O Luiz Júnior chegou a Famalicão proveniente dos Sub-20 do Mirassol para jogar nos Sub-19, mas subiu aos Sub-23, até se impor na equipa principal e ser vendido por €12M para o Villarreal.

Para além destes dois casos, que são os rostos mais visíveis da equipa, há vários jogadores a competir na 1ª e 2ª Ligas Portuguesas, assim como em ligas profissionais no estrangeiro. Assisto, frequentemente, a discussões sobre a utilidade da Liga Revelação. Estas discussões envolvem colegas de profissão e aparecem também em debates nos órgãos de comunicação social e na imprensa.

Clubes com objectivos diferentes para a Liga revelação

Há várias opiniões, das mais favoráveis, mas também há quem não olhe para a competição como o espaço competitivo ideal para desenvolver talento e gerar mais valias.

Na verdade, os diversos clubes participantes na Liga Revelação olham para a competição com objetivos diferentes. Há quem jogue com jogadores no limite da idade permitida para o escalão, mas há clubes a utilizar jogadores muito jovens de modo a potenciar talento.  

O caso mais recente é Geovany Quenda, que fez mais do dobro dos jogos nos Sub-23 do Sporting do que na equipa B. E, neste caso específico, encontramos inúmeros exemplos:

–  Matheus Nunes passou dos Sub-23 do Sporting para a equipa principal diretamente;

–  António Silva tem apenas 4 jogos da equipa B do Benfica (e fez mais de 35 nos Sub-23);

–  João Neves tem mais jogos nos Sub-23 do que na equipa B do Benfica;

–  Vitinha fez mais jogos nos Sub-23 do que na Equipa B do Sp. Braga;

–  O próprio Renato Veiga tem mais jogos nos Sub-23 do Sporting do que na equipa B.

Vale(u) a pena!

Atualmente, na 1ª Liga, jogam vários atletas que passaram pelo menos uma época na Liga Revelação. Alguns deles fazem parte do onze habitual das equipas principais. Entre eles estão: Tomás Handel (Vitória de Guimarães), Leonardo Lelo (agora no Casa Pia, mas que fez mais de 30 jogos nos Sub-23 do Portimonense), Wagner Pina (Estoril), Gustavo Sá (Famalicão), Fábio Ronaldo (Estrela da Amadora) e João Gonçalves (Boavista).

O guarda-redes Ricardo Velho tem mais jogos nos Sub-23 do Sp. Braga do que na equipa B, e mesmo quando se transferiu para o Farense (na 2a liga na altura) começou na equipa de Sub-23, até impor-se na equipa principal. Hoje é um jogador de Seleção Nacional Portuguesa! Mas tanto em Braga como em Faro precisou daquele contexto para se potenciar.

Carlos Vaz Pinto liderou a equipa Sub-23 do Famalicão em 2019/20

Há, ainda, outros casos de futebolistas que jogam com regularidade, mas sem o mesmo mediatismo. São exemplos Miguel Reisinho (Boavista), Miguel Maga (Vitória de Guimarães), Fabrício (Estoril) e Tiago Dias (atualmente no Casa Pia e que foi meu jogador no Famalicão Sub-23), entre outros.

Alguém tem noção de quanto dinheiro já “rendeu” a Liga Revelação?

Refiro-me apenas a jogadores que disputaram a Liga Revelação por, pelo menos, uma época. Esses jogadores subiram à equipa A, afirmaram-se e geraram uma venda. (Aqui, excluo Benfica, Sporting e Braga.) Em 7 edições da prova, já renderam qualquer coisa como 150 milhões de euros! Se, a estes valores, juntarmos Benfica, Sporting e Sp. Braga, os números rondam os 500 milhões de euros!

A Liga Revelação surgiu na época 2018/2019. O objetivo era ocupar, nos clubes com equipas nos campeonatos profissionais, o espaço de transição entre o futebol júnior e o sénior. Assim, procurou-se potenciar o talento em idades decisivas e inspirar os jovens jogadores. A ideia era que, nos sub-23, mantivessem o objetivo de seguir uma carreira de sucesso no futebol.

Na minha opinião, foi um objetivo amplamente atingido. Além disso, contribuiu para que os clubes, mesmo os de menor dimensão, conseguissem gerar mais valias financeiras. Vale(u) a pena!

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