
A vida de Francesco Acerbi dava um livro. Um best-seller muito provavelmente. O defesa-central foi o maior herói da noite vitoriosa do Inter de Milão sobre o Barcelona, ao marcar o 3-3 nos descontos da partida, mostrando a todos, naquele momento, o seu lema de vida. Desistir nunca é opção. E, apesar de ser defesa, foi à área blaugrana fazer um golo ‘à ponta-de-lança’ que forçou o prolongamento, onde depois a equipa de Inzaghi fez a festa. Acerbi: o super-homem é nerazzurro.
Aos 37 anos, Acerbi fez o seu primeiro golo em competições europeias e logo numa meia-final decisiva da Champions, ajudando o Inter a voltar à final da prova dois anos depois. Em 2023, Acerbi foi titular na derrota dos nerazzurri, por 1-0, diante do Manchester City, e acabou muito elogiado no final da partida, por ter conseguido anular o avançado citizen Haaland, quando já tinha 35 anos.

A vida desportiva e pessoal do experiente central, natural da região da Lombardia, acumula episódios de tristeza e medo, mas também de determinação, perseverança e profissionalismo.
Em 2012/13, após trocar várias vezes de clube em Itália, Acerbi chegou, então, ao histórico Milan. Mas não foi uma época feliz. O falecimento do pai levou o defesa-central a entrar em depressão, associando a esse problema uma adição ao álcool. Só anos mais tarde é que o defesa assumiu ter passado por essa fase complicada da vida, que provocou a sua saída dos rossoneri e ser cedido ao Chievo.

Mas, provando ser um lutador da vida, Acerbi fez um final de época positivo e atraiu o interesse do Sassuolo, que tinha garantido, pela primeira vez na sua história, a subida à Serie A italiana.
Aos 25 anos, Acerbi preparava-se para uma nova aventura na Serie A, desta vez por um clube estreante. Mas os exames da pré-época trouxeram mais uma má notícia. O central viu ser-lhe detetado um tumor num testículo e a necessidade de ser operado para debelar o problema.
Mostrando ser um guerreiro, Acerbi foi operado e quis voltar de imediato aos treinos, o que aconteceu ainda antes do fim de 2013. Em dezembro, reprovou num teste antidoping. Acerbi negou o uso de qualquer substância ilegal e os exames posteriores confirmaram-no: o chumbo deveu-se a alterações hormonais motivadas pelo aparecimento do tumor no verão.

No início de 2013 Acerbi sofreu uma recidiva do tumor e fez, então, sessões de quimioterapia. Mas não abdicou de ir aos treinos ao mesmo tempo, mostrando um profissionalismo digno dos maiores elogios. O Sassuolo, que detinha o passe do jogador em co-propriedade, adquiriu depois a totalidade, tendo Acerbi jogado cinco épocas no clube.
Face a todos estes problemas, a imprensa italiana chegou a dizer que Acerbi poderia colocar um ponto final na carreira mais cedo. O central, contratado pela Lazio em 2018, negou, então, as especulações. “Fim de carreira? Nem pensar! Acabei de chegar à Lazio, um dos maiores clubes de Itália, que já foi campeão e com adeptos incríveis. Deixem-me desfrutar”, disse, na altura.
E a verdade é que Acerbi chegou, então, embalado à Lazio. Com a camisola do Sassuolo e a laziale, o central chegou aos 149 jogos consecutivos na Serie A e só uma expulsão numa derrota frente ao Nápoles, a 20 de janeiro de 2019, o impediu de alcançar o recorde de Javier Zanetti. O lendário defesa do Inter ainda é o jogador de campo com mais jogos na Serie A: 162.
Orientado, então, na Lazio por Simone Inzaghi, Acerbi viu o técnico rumar ao Inter Milão em 2021. Um ano depois, face à saída de Ranocchia, Inzaghi foi contratá-lo à Lazio. No verão de 2022, o central, de 34 anos, assinou pelo Inter e, depois da Serie A e da Taça de Itália, só lhe falta mesmo ganhar a Champions.
Já ao serviço do Inter, Acerbi falou, curiosamente, da aprendizagem que teve no processo de tratamento ao cancro. “Eu não tinha uma mentalidade profissional. E não me respeitava a mim, ao meu trabalho nem àqueles que me pagavam. Muitas vezes, chegava bêbedo aos treinos, ou de ressaca pela noite de copos do dia anterior. Fisicamente respondia bem porque sempre fui forte e bastavam-me umas horas de sono, mas o problema é que cometia muitos exageros. Durante a doença, convenci-me do poder da minha mente. O cancro foi a minha sorte, salvou-me a vida. Sem a doença, teria acabado na Serie B, ou talvez até tivesse deixado o futebol. Sem ela, teria acabado muito mal e ninguém me teria salvado”, confessou.

A derrota de 2022/23 ainda está na memória, mas desistir nunca foi opção para o super-homem nerazzurro. A Taça dos Campeões foi feita à sua medida.






