
Quando decidiu deixar Portugal rumo a Angola para representar o Petro de Luanda, Pedro Aparício nunca imaginou que a sua primeira temporada fora do país natal seria, então, coroada com dois títulos. O médio português, que anteriormente havia representado o Moreirense, conquistou a Supertaça de Angola e o Girabola logo na sua época de estreia pelo emblema tricolor, um dos clubes mais históricos de Angola. O brilho português no campeão de Angola.
A mudança para o continente africano surgiu, então, após uma temporada com poucos minutos em Portugal. “Foi algo repentino. Nunca me tinha passado pela cabeça ir para Angola”, confessa, em exclusivo ao Craques.pt, Pedro Aparício. Revelando ter recebido “contactos de clubes da Primeira e Segunda Liga, com projetos para subir de divisão” no final de 2023/24, o médio acabou, ainda assim, por aceitar o desafio do Petro de Luanda.
Pedro Aparício começou, então, por ficar surpreendido com uma proposta vinda de Angola. “Surgiu depois de uma época sem protagonismo, com poucos minutos em Portugal. Já sabia que não ia ficar no Moreirense, porque o meu contrato ia acabar. Com as propostas que recebi em Portugal não ia subir o patamar competitivo. Ia estagnar”, explica o futebolista, de 29 anos.
O desafio de conhecer outras realidades acabou por falar mais alto. “Sempre quis experimentar algo fora de Portugal e a parte financeira no Petro era boa. Mesmo que não conhecesse muito bem a realidade desportiva do clube”, revela. “Dentro das opções que tinha, foi a que achei melhor e aceitei”, acrescenta.

A adaptação ao novo clube, que foi treinado pelo português Ricardo Chéu entre agosto de 2024 e abril de 2025, e agora, pelo angolano, Flávio Amado, foi facilitada por vários fatores: “Entrei logo no início da pré-época. Foi positivo fazer a pré-época em Portugal, pois a equipa costuma fazê-la aí”, conta o jogador, destacando a importância desse período para a sua integração. “Foi importante ter essa adaptação à equipa e aos colegas no meu país. A ambientação foi muito boa, foi fácil”, sublinha. “Ter portugueses e jogadores que passaram pela Europa ajudou muito. O feedback dos colegas foi muito bom, descansou-me e ajudou na adaptação”, confessa.
A adaptação foi boa, mas Pedro Aparício encontrou diferenças significativas entre o futebol praticado em Angola e em Portugal. “O jogo é mais físico, e os adversários encontram outras armas, como a agressividade, para nos pararem, já que temos mais qualidade que o resto das equipas”.
No entanto, o jogador destaca que o Petro de Luanda tem uma filosofia diferente. “A ideia de jogo ‘europeia’ do clube é diferente da dos restantes clubes. Temos um jogo de posse”, descreve Pedro Aparício, elogiando depois as condições oferecidas pelo clube. “São ao nível das que encontrei no Moreirense. São boas. Nos treinos, na suplementação, na nutrição e, até, nas viagens para os jogos, em que vamos de avião privado”, revela.
Uma das principais diferenças são os relvados. “Os relvados não são bons. Uns muito altos, outros com buracos e ainda os que são muito secos. Há alguns sintéticos, mas os naturais não são mesmo bons. À exceção do campo do Petro, temos apenas o Estádio Nacional, que é muito bom”.

A primeira temporada de Pedro Aparício ao serviço do Petro de Luanda não podia, então, ter corrido melhor. “Foi uma época muito positiva. Fui titular em quase todos os jogos. Fisicamente senti-me muito bem”, avalia o jogador. “Só não vencemos a Taça de Angola… de resto, ganhámos dois títulos”, recorda o médio, que valoriza mais o coletivo do que os números individuais. “Marcar golos não é tudo. Sou mais do que isso, mas entendo que as estatísticas são cada vez mais importantes para o futebol”, reflete.
Entre os momentos mais marcantes da temporada, Pedro Aparício destaca dois jogos em particular. “Além dos títulos… o golo ao 1º de Agosto (1-1, aos 90+2’). Foi importante não termos perdido nesse jogo de grande importância”, recorda, então, o jogador, referindo-se ao grande rival do Petro de Luanda.
Outro momento especial foi o triunfo em casa do Interclube. “Estávamos a perder e marquei aos 77 minutos, o golo que empatou o jogo. E depois estive na origem da reviravolta”, conta Pedro Aparício. “Sentimos que íamos ser campeões depois desse jogo”, revela.

O futebol angolano tem particularidades que surpreenderam o médio português. “Depois de jogarmos fora temos de sair do estádio em 10/15 minutos para chegarmos a tempo ao aeroporto enquanto ainda há luz natural, porque os aeroportos não têm luz artificial para apanharmos o avião na noite depois do jogo. É um pouco anti-clímax porque às vezes queremos festejar as vitórias com os adeptos e temos de sair”, conta Pedro Aparício.
O jogador também partilha algumas superstições. “Quando as fases não são muito boas já vi meterem sal no balneário como superstição para voltarmos aos bons momentos”, revela. “Um dos centrais, em lances de bola parada ofensiva, vai sempre abanar as redes adversárias para ‘chamar o golo'”, acrescenta.
Quanto ao futuro, Pedro Aparício tem, então, planos bem definidos. “Tenho contrato por mais um ano. Quero cumprir os dois anos de clube”, afirma o jogador, que tem ambições para a próxima temporada: “Quero jogar na Liga dos Campeões de África, que infelizmente não aconteceu este ano. É um grande objetivo.” E a escolha feita há um ano não podia ter sido, então, mais acertada. “Olhando para trás, foi uma ótima decisão vir para o Petro”, conclui Pedro Aparício, que pretende “fazer melhor na próxima época” e continuar a sua aventura africana.






