Aos 26 anos, João Almeida venceu três provas em 2025: a Volta ao País Basco, à Romandia e à Suíça. O “regresso decisivo” ao treinador Amândio Santos e uma consistência impressionante nas provas têm feito, então, do ciclista português uma das principais figuras do atual pelotão internacional. Para percebermos melhor o impacto que João Almeida poderá ter na modalidade e no futuro da mesma em Portugal, falámos com um especialista em ciclismo e comentador das mais diversas Voltas na Europort. Olivier Bonamici: “Se o João Almeida vencer uma Grande Volta poderemos assistir ao ‘boom’ do ciclismo em Portugal”.
Olivier Bonamici destaca aquilo que o ciclista português já conseguiu em tão pouco tempo: “Ganhar três voltas no mesmo ano é muito complicado”. João Almeida venceu a Volta ao País Basco, à Romandia e à Suíça, provas que, apesar de terem a duração de uma semana, confirmam, então, o seu nível de elite.
Mais do que uma boa fase, esta época “vem na sequência do ano passado” com um percurso sólido — que já o levou ao 3.º lugar no Giro d’Itália e ao 4.º no Tour de France, em 2024. “Mostra regularidade e maturidade”, refere o comentador francês, que também refere que o João “com 26 anos está na idade de progredir”, acrescenta Olivier Bonamici.
A 5,5 quilómetros do fim da 7.ª etapa da Volta a França, João Almeida esteve envolvido numa queda com vários ciclistas. O resultado foi, então, uma lesão nas costelas e a desistência da prova. Para Olivier, antes do arranque do Tour, as perspetivas em João Almeida eram essencialmente duas. “O João fazer melhor do que no ano passado, ou seja terminar no pódio, e ajudar Pogačar a vencer o Tour.”
“O histerismo português sobre o possível pódio na Volta à França é normal, mas não nos podemos esquecer que não era o objetivo principal dele. No entanto, só em 1979, com o Joaquim Agostinho, há 46 anos, é que aconteceu. É normal haver esta expectativa e histerismo”, explica o comentador da Eurosport.
A presença de Tadej Pogačar na Volta a Espanha, que começa no dia 23 de agosto, pode, então, alterar os planos. “Se for, vai para ganhar, não para dividir a liderança com o João”, alerta Bonamici. “O Pogačar nunca ganhou a Vuelta e sabemos que no ciclismo quando podes ganhar agora, ganhas agora. Se forem os dois, o João irá para ajudar o esloveno a ganhar”, avisa.
Apesar da sombra do esloveno limitar o possível protagonismo de João, Olivier admite também que correr ao lado do melhor ciclista do mundo ajudou o português a crescer e a chegar ao “topo do topo”.
Se Pogačar não estiver presente, “a história é outra”. Olivier acha que João poderá finalmente liderar a UAE Team Emirates e ganhar uma Grande Volta. Mesmo com adversários internos como Ayuso ou Isaac Del Toro, o comentador da SIC e Eurosport e especialista em ciclismo acredita que João Almeida será o líder da equipa e vê a Vuelta como uma boa chance para vencer a primeira Grande Volta, desde que a recuperação da lesão sofrida no Tour esteja concluída.
Ainda assim, Bonamici aponta a 2026. “Acho que a grande oportunidade do João Almeida é o Giro d’Itália, em 2026. Tendo em conta que Pogačar não irá correr, o João Almeida poderá ser o único líder com concorrência, embora não seja igual à do Tour. Não haverá Pogačar, Van der Poel nem Vindegaard, em princípio. Sem estes três dos melhores voltistas do mundo, João Almeida terá tudo para ganhar a Volta a Itália”, aponta.
Olivier Bonamici coloca João Almeida entre os três maiores nomes de sempre do ciclismo nacional. “Está no top-3”, afirma. “Para mim, Rui Costa é o terceiro, pelo título mundial alcançado em 2013. Em segundo, o João Almeida, pelo 3.º lugar em Itália e o 4.º no Tour, em 2024. Na história apenas um ciclista tinha feito um pódio numa Grande Volta (Joaquim Agostinho) e agora o João também tem”, acrescenta.
“Para mim o grande ciclista português foi Joaquim Agostinho, porque marcou uma geração. O Joaquim fez duas vezes pódio na melhor prova do mundo, que é a Volta a França. A regularidade conta muito. Agostinho esteve no topo do topo durante sete ou oito anos, e com uma grande concorrência, numa geração extraordinária. Pelo impacto que teve na sociedade portuguesa, Joaquim Agostinho ainda continua na frente. Mas não ganhou nenhuma Grande Volta. Se o João Almeida vencer uma Grande Volta poderemos assistir ao ‘boom’ do ciclismo em Portugal”, concluiu Olivier, num exclusivo ao Craques.