
O futebol brasileiro descobriu, com o decorrer da competição, que o Vasco da Gama tem um avançado português a decidir jogos e a alimentar sonhos — Nuno Moreira, um dos destaques do onze de Fernando Diniz que incendiou São Januário e virou ‘queridinho’ das bancadas. Mas, nos corredores do clube, há um outro português a redesenhar o futuro do “Gigante da Colina”. Chama-se Admar José Ferreira Lopes, tem 41 anos, nasceu em Ermesinde, e está a assumir silenciosamente um papel de protagonista na reconstrução vascaína.
Chegou ao Rio de Janeiro sem alarido mediático, longe do impacto de José Boto no Flamengo, mas com currículo e convicção suficientes para mudar mentalidades. O tempo começa a dar-lhe razão.
A história de Admar Lopes não é de palcos, mas de bastidores. Começou no scouting do FC Porto, um dos berços europeus da análise moderna, e ali formou o olhar clínico para talento, contexto e oportunidade.
Depois, seguiu o trilho de quem pensa o futebol à escala global. Trabalhou no AS Monaco e no LOSC Lille ao lado de Luís Campos, hoje diretor desportivo do PSG e considerado um dos maiores “arquiteto-de-plantéis” do futebol mundial.

No Principado, encontrou Leonardo Jardim, o treinador que conduziu o Monaco de Mbappé, Bernardo Silva e Fabinho ao título francês. Em Lille, absorveu conhecimento junto de dois técnicos de universos distintos: o revolucionário Marcelo Bielsa e o pragmático-vencedor Christophe Galtier. Aprendeu com ambos — a ousadia e a estrutura, o risco e a disciplina.
Antes de aterrar no Brasil, foi diretor-geral de futebol do Boavista e mais tarde do Girondins de Bordeaux, clubes integrados no controverso universo empresarial do investidor luso-luxemburguês Gérard Lopez. Viu de perto tempestades financeiras, tensões políticas, e percebeu — como poucos — que o futebol já não se governa apenas com paixão: exige estratégia, método, governação e coragem.
Quando foi anunciado como Diretor Executivo de Futebol do Vasco da Gama, em junho de 2025, muitos torcedores perguntaram: “Mas quem é este português?”
Hoje, a pergunta começa a ser outra: “Como é que o Vasco estava sem ele?”
Com o clube a assinar a melhor campanha da segunda volta do Brasileirão, os méritos não pertencem só ao campo. O treinador Fernando Diniz e o seu Dinizismo de bola ao pé e peito aberto merecem aplausos; o talento do menino Rayan entusiasma e promete; mas é cada vez mais evidente que existe um plano, uma estrutura, uma estratégia — e aí entra Admar Lopes.

O dirigente trouxe ao Vasco aquilo que transportou da Europa: processo, scouting global, métricas, análise de performance, planeamento plurianual e decisões baseadas em convicção e não em urgência emocional.
Não procura protagonismo. Procura sustentabilidade desportiva, palavra que raramente faz manchetes, mas que costuma levantar taças.
Admar Lopes não disputará bolas divididas no relvado, não ouvirá cânticos com o seu nome, não aparecerá em posters nas bancas. Mas cada contratação assertiva, cada evolução de atleta promovido ao plantel principal, cada decisão que fortalece o clube… tem a sua impressão digital.
Se Nuno Moreira é a face portuguesa que a torcida abraça, Admar Lopes é o coração estratégico que o clube está a aprender a admirar.

Tem a frieza de quem sabe que o futebol se decide nos detalhes, mas também a paixão suficiente para perceber o peso da Cruz de Malta ao peito. Chegou sem estrelas na lapela; está a construir, com trabalho, o seu próprio brilho.
No Brasil, gostam de dizer que o futebol se divide entre quem encanta e quem constrói. O Vasco, em 2025, tem um português a encantar e outro a construir.
Nuno Moreira embala o sonho.
Admar Lopes ergue os alicerces.
E se o gigante carioca voltar a ser gigante, a história não esquecerá o avançado que incendiou São Januário — mas também não apagará o dirigente que acendeu a luz lá dentro.






