Um clube histórico… ou o que restou dele. Sempre que se passa a ponte 25 de abril vê-se o histórico Estádio da Tapadinha, do Atlético Clube de Portugal, e pensa-se nas tardes de futebol que podiam ser feitas. Hoje ainda não dá para isso, porque o clube perdeu expressão no futebol nacional, mas no início não era bem assim.
Depois das glórias do “verdadeiro” Atlético, os problemas financeiros apareceram com a subida para a 2.ª liga em 2011, depois de 35 anos ausentes dos campeonatos profissionais.
Com a falta de dinheiro constituiu-se uma SAD, em 2013, liderada por Xialong Ji, da Anping Football Limited (pertencente a Eric Mao), que adquiriu 70%, mas a situação só piorou.
Atualmente o clube parece estar num bom caminho, depois de Gifford Miller ter entrado com milhões de euros e adquirido 90% da SAD. O sonho dos campeonatos profissionais já esteve mais longe.
O clube fundado a 18 de setembro de 1942 resultou da fusão entre duas equipas da região ocidental de Lisboa: o Carcavelinhos Football Clube e o União Foot-ball Lisboa. O Atlético começou a mostrar-se no panorama nacional com muita força logo na primeira década, porque ingressou, de pronto, nas competições desportivas do país.
Ora, juntando um emblema que já tinha vencido um Campeonato de Portugal (Carcavelinhos em 1927/28) a um que já tinha chegado à final da competição (União, em 1928/29) só podia dar bom resultado.
O objetivo desta união de clubes de Alcântara era mesmo esse: criar um clube maior e mais forte. E assim foi. Com um plantel formado por jogadores das duas equipas fundadoras, os primeiros dez anos foram os mais dourados do clube. Nesse ano, o Atlético usava o Campo da Tapadinha para disputar os jogos enquanto visitado. O Estádio da Tapadinha foi construído apenas três anos depois, em 1945.
Em menos de dez épocas, os jogadores alcantarenses foram duas vezes à final da Taça, as únicas do clube: em 1946, frente ao Sporting, e em 1949, frente ao Benfica. Embora tenham perdido nas duas ocasiões, foram os maiores feitos dos Carroceiros no futebol nacional.
Nesses anos, o Atlético ainda esteve no terceiro lugar do pódio do campeonato de 1943/44 e 1949/50, tendo sido a melhor classificação de sempre na primeira divisão.
Depois de três campeonatos conquistados da 2.ª Divisão (1944/45, 1958/59 e 1967/68), a queda deu-se na época 1976/77, há 48 anos, quando caiu a última vez para a 2.ª divisão, e nunca mais esteve no mais alto escalão do futebol português.
Mesmo não estando na primeira divisão há quase 5 décadas, o Atlético continua a ser o 21.º clube com mais vitórias no campeonato (192, em 24 participações).
Os Carroceiros passaram a ser um crónico nos palcos secundários, sem grandes brilhos e com poucas glórias. O clube da Tapadinha viveu anos num “elevador” entre divisões, até que o novo milénio trouxe outros ânimos aos ocidentais da capital.
Em 2003/04 e 2005/06 o Atlético conquistou a sua série da quarta divisão e tinha em vista a consolidação na II Divisão B, o terceiro escalão na época, algo que não conseguiu.
Foi já em 2010/11, que os lisboetas venceram a série sul. Com a subida á Segunda Liga, voltaram aos campeonatos profissionais do futebol nacional, 35 anos depois.
Mais recentemente, em 2015/16, com os problemas financeiros e a crise com o investimento chinês, aconteceu a queda livre do Atlético. O clube terminou a época em zona de despromoção separando-se da SAD, ocupando o lugar da equipa B na 1ª Divisão da AF Lisboa.
O problema “recente” do Atlético foi esse mesmo: a subida à Segunda Liga. Após a promoção, em 2011, apareceram custos com os quais o clube não estava habituado a lidar, não tendo conseguido suportá-los.
Daí apareceu o investidor sediado em Hong Kong, a Anping Football Limited, que adquiriu 70% da SAD do Atlético, solução que não correu bem para os alcanterenses.
O chinês Eric Mao, proprietário da empresa, já tinha sido indiciado pela UEFA por fortes suspeitas de corrupção e combinação de resultados para apostas.
Em 2017, com o clube já nas distritais e afastado da SAD, no fim de uma partida, os jogadores foram detidos no Estádio da Tapadinha. A Sociedade Desportiva foi impedida pela justiça de competir no futebol profissional. Desde então, o clube tem tentado recuperar o tempo e espaço perdidos, desde as distritais.
Com o recomeço da luta nas distritais, o Atlético tem vindo, então, a subir pelo “caminho das pedras”.
Em 2021/22 conquistou a 1ª Divisão da AFL e voltou aos campeonatos nacionais, a quarta divisão portuguesa, o agora denominada Campeonato de Portugal.
Foi por esta altura que apareceu o novo investidor. Um imobiliário americano que teve carreira na política, nomeadamente em Nova Iorque. Gifford Miller investiu cerca de 1 milhão de euros para adquirir 90% da SAD ao Atlético, com a pretensão de colocar mais alguns milhões nos anos seguintes. O objetivo era claro: que o Atlético passasse de um clube amador, ou semiprofissional, para profissional, como adiantou à New York Times.
Em 2022/23, o Atlético subiu à Liga 3, depois de ter ganho o Campeonato de Portugal. Mas os objetivos não se ficaram por aqui. Além do rendimento desportivo, Miller pretendia ainda modernizar o estádio. O objetivo era que o estádio, além de se tornar legal para receber jogos da Liga Portugal 2, se tornasse um local para mais eventos em dias de jogo.
O Atlético está, atualmente, em quarto lugar na fase de subida da Liga 3, perto da promoção, muito devido ao investimento que tem feito nos plantéis e nos treinadores.
Vários foram os jogadores que tiveram grandes voos e que passaram pelo Atlético. Muitos deles, formados no próprio clube, como Germano de Figueiredo.
Nascido em Alcântara em 1932, o central entrou nas escolinhas do clube em 1947 e estreou-se na equipa principal em 1951, com 19 anos.
Reconhecido, então, pelo Jornal Record como “o mais completo jogador de futebol que Portugal conheceu”, Germano era um central de enorme categoria. Ele viveu com a amargura de perder o pai e a mãe antes dos 15 anos.
Em 1956/57, teve de interromper a carreira por um problema pulmonar. Voltou a atuar um ano depois, quando o Atlético já estava na segunda divisão. Depois de conquistar a II Divisão em 1958/59, o central com grande visão de jogo e veia goleadora, completou mais um ano na Tapadinha, para depois ingressar no Benfica, em 1960/61.
Foi ao serviço das águias, logo no primeiro ano, que conquistou a Taça dos Clubes Campeões Europeus. Não sendo suficiente para o central alcantarense, também venceu o troféu em 1961/62.
Completou ainda 24 jogos pela Seleção. É um dos “Magriços” que alcançou o melhor resultado de Portugal em Mundiais (3.º lugar no Campeonato do Mundo de 1966). Germano terminou o seu caminho no futebol em 1967/68, ao serviço do, também histórico em crise, Salgueiros.