Uma história de amor de nove anos, que transformou a Atalanta para sempre. Gian Piero Gasperini chegou a Bergamo em 2016 e, mesmo tendo tido de superar uma pandemia avassaladora na região mais fustigada de Itália, colocou ‘La Dea’ (A Deusa) num patamar europeu. A Atalanta que lutava, quando Gasp chegou, para não descer à Serie B, tornou-se, então, um clube com presença assídua nas provas europeias, nomeadamente na Champions. E ainda conquistou uma Liga Europa em 2023/24. Este final de época marcou o adeus sentido ao Senhor Atalanta.
Gasperini chegou e impôs, de imediato uma mudança de sistema. A Atalanta passava a jogar com três centrais, priorizando, desde logo, a consistência defensiva. Mas o arranque não foi fácil e o técnico chegou a estar à beira do despedimento após as primeiras 10 jornadas da Serie A. Contudo, uma recuperação incrível na tabela, feita às custas de vitórias inesperadas contra os maiores tubarões italianos, embalaram a equipa para uma grande época.
O 4º lugar alcançado trouxe, então, as noites europeias de volta ao Atleti Azzurri D’Italia após 26 anos de ausência. Gasperini foi apetrechando o plantel e a Atalanta foi-se tornando, numa primeira fase, numa equipa incómoda e a praticar um futebol rápido e enleante. A qualificação para a Liga dos Campeões, em 2018/19 foi um marco definitivo do bom trabalho que o técnico estava a desenvolver. Foi, também, nessa época que ‘La Dea’ chegou à final da Taça de Itália, mas perdeu frente à Lazio (2-0).
Com a qualificação para os oitavos-de-final da Champions, Gian Piero Gasperini foi condecorado com o título de Cidadão honorário de Bergamo, em 2019. E, nesse ano, explodiu então a Covid-19, em que a cidade de Bergamo foi o epicentro da pandemia em Itália: perto de 35 mil mortos. Mas a Atalanta conseguiu ajudar muitas famílias, distribuindo bens alimentares e de primeira necessidade.
Em 2019/20, a Atalanta ficou em 3º lugar na Serie A e igualou um recorde que a Juventus havia estabelecido em 1951/52. Pela primeira vez, os três atacantes de ‘La Dea’ fizeram, todos eles, mais de 15 golos no campeonato: Ilicic (21), Muriel (19) e Zapata (19).
E veio mais uma qualificação para a Champions. Em 2020/21 haveria de perder outra final da Taça de Itália, diante da Juventus (2-1). Mas o melhor ainda estava por vir…
Com sucessivos 3ºs lugares na Serie A, a Atalanta de Gasperini falhou o acesso aos ‘oitavos’ da Champions em 2023/24, mas em boa hora o fez. Transitou para a Liga Europa, onde eliminou o Sporting de Rúben Amorim nos ‘oitavos’ (1-1 e 2-1), o Liverpool de Klopp nos ‘quartos’ (3-0 e 0-1), o Marselha de Gasset nas ‘meias’ (1-1 e 3-0) até bater o Bayer Leverkusen de Xabi Alonso na grande final (3-0).
Um triunfo mais do que merecido para o experimentado Gasperini, que tanto porfiou e, enfim, alcançou. A ‘La Dea’ é hoje um clube ‘de Champions’, que costuma, então, intrometer-se na luta pelo título da Serie A. Mas chegou, então, a hora do adeus sentido ao Senhor Atalanta.
Como reconhecimento do trabalho efetuado por Gasperini no clube nos últimos 9 anos, a Atalanta escreveu uma sentida carta de despedida ao técnico, de 67 anos.
“Caríssimo treinador,
A nossa história foi fantástica, mais única do que rara no mundo do futebol. Nove anos intensos e excecionais em que conseguimos resultados fantásticos em Itália e na Europa.
Uma página, um grande capítulo, que será indelével na história da Atalanta, tal como a relação de (profundo) afeto e (sincera) estima que nos ligou e sempre nos ligará, apesar do facto de os nossos caminhos profissionais se separem agora.
Nunca poderemos deixar suficientes agradecimentos pelas emoções que nos deu e pelas alegrias que pudemos dar a Bérgamo e aos nossos adeptos, além daquilo que era imaginável.
Depois de tantos anos juntos, sentimos que era nosso dever respeitar o desejo que o treinador tinha de procurar novos desafios, sabendo com toda a certeza que a nossa relação nunca será interrompida e que a estima mútua nunca falhará.
Uma vez mais e para sempre,
Obrigado, Mister.”