O treinador português Pedro Ribeiro vive um momento especial na sua carreira de “quase 20 anos”. A subida à Premier League com o Sunderland representa o culminar de um trabalho coletivo que rapidamente se transformou num projeto ambicioso e bem-sucedido. “É apaixonante ter esta oportunidade”, confessa o adjunto do francês Régis Le Bris, destacando a dimensão do clube e dos seus apaixonados adeptos: “O Sunderland é clube de Premier League.” “Pelo estádio, adeptos, cidade… por tudo”, afirma Pedro Ribeiro, em entrevista ao Craques.
Para o técnico, de 39 anos, os moldes dos play-offs do Championship poderiam, um dia, ser implementados em Portugal: “A esperança que dá às equipas que estão entre o topo e o meio da tabela aumenta o espetáculo. Quando se tem esperança, joga-se sempre ao ataque, para ganhar. Há lugares alcançáveis para os play-offs até à última jornada. É por isso que os estádios estão sempre cheios. Esta forma de encarar a competição pode funcionar em Portugal.”
Pedro Ribeiro abriu o livro para falar dos objetivos relacionados com a subida. “Era um sonho. Não éramos dos principais candidatos à subida, mas conseguimos. Não era, de facto, uma obrigação clara, especialmente porque havia outras equipas com outros orçamentos e obrigações. Mas depois é dentro de campo que se percebe quem merece.”
O Championship apresenta características únicas que o diferenciam de outras competições europeias. “É um campeonato extremamente longo e duro”, destaca Pedro Ribeiro, que recorda uma conversa com o treinador principal em relação às 46 jornadas. “Se fosse em Portugal ou em França, o campeonato já teria terminado em meados de fevereiro. No nosso caso, ainda faltavam dois ou três meses de alta intensidade, com uma carga emocional altíssima”, considerou.
“Não é fácil jogar de 3 em 3 dias de forma constante”, alertou, admitindo que gosta deste formato e que o acha “interessante”. O técnico português aponta ainda outra particularidade: “Aqui, existem padrões de jogo bastante diferentes de equipa para equipa. É extremamente comum num dia encontrarmos uma equipa extremamente ofensiva, com seis jogadores na frente, que quer dominar o adversário, muito pressionante sem bola, e três dias depois jogarmos contra outro adversário e a estratégia passar pelo jogo direto, por exemplo. Nesses dois ou três dias o foco é recuperar porque, na maioria das vezes, quase nem treinamos de forma aquisitiva.”
Pedro Ribeiro relembrou, ainda, a fibra dos adeptos ingleses. “O meu segundo jogo no clube foi frente ao Luton Town, que tem um estádio para cerca de 10 mil pessoas. A sensação era como se estivéssemos em Wembley, com 100 mil pessoas. Todos a puxarem pela equipa e a fazerem muito barulho. Um ambiente fantástico. E isto é apenas um exemplo”, conta.
A conquista da subida através do play-off foi resultado de um planeamento cuidadoso. “Percebemos em fevereiro/março que a subida direta seria difícil, mas percebemos que poderíamos alcançar o play-off. Deu para gerir a equipa de modo a chegarmos aos play-offs na máxima força. Portanto, a preparação começou bem antes”, explica Pedro Ribeiro.
A gestão emocional foi fundamental neste processo. “Saber gerir emoções foi fundamental. Não nos deixarmos levar positivamente pela euforia, nem negativamente por um ou outro resultado menos bom”, refere o treinador, que elogia a maturidade do plantel: “Equipa jovem, mas madura.” O adjunto dos Black Cats destacou, ainda, o momento do golo de Ballard aos 120+2’ da 2.ª mão das meias-finais como um momento que vai levar “para toda a vida.”
Pedro Ribeiro garante ao Craques que o Sunderland não chegou à Premier League por acaso: “O projeto desportivo é sólido, consistente e estável. Sabe-se exatamente aquilo que se está a fazer.” E não esconde a ambição, embora mantendo os “pés no chão”: “Estamos conscientes de que em anos anteriores na Premier League as equipas que sobem do Championship no ano seguinte têm descido. Não queremos que isso aconteça ao Sunderland”, adverte, consciente das dificuldades que a equipa enfrentará na “eventual melhor liga do mundo”.
Para Pedro Ribeiro, o foco está no presente: “Temos de estar focados no presente e não no futuro. Estou completamente concentrado no projeto Sunderland.”
Uma das características mais marcantes deste Sunderland é a juventude do seu plantel. “Penso que o 11 inicial da final em Wembley foi dos mais jovens de sempre, em termos de média de idades. Faz parte do projeto”, revela Pedro Ribeiro. Entre os jovens talentos, destacam-se, entre outros, Chris Rigg ou Jobe Bellingham, irmão de Jude Bellingham: “Tem muito potencial. Com 19 anos, cumpriu, no decorrer da época, 100 jogos no Championship. Faz tudo, de forma diária, para melhorar. É um profissional de excelência”, elogia o treinador português.
Já a maturidade de Chris Rigg, jogador que se estreou no Sunderland aos 15 anos (em janeiro de 2023), também surpreendeu, então, o treinador natural de Guimarães: “Não é normal um jogador de 17 anos jogar com tanta maturidade. Para além dos atributos técnicos e físicos que tem, o seu lado competitivo torna-o num jogador diferente para a sua idade. Tem um potencial altíssimo.”