A primeira coisa que tenho a dizer é que o Racing Power é uma história de sucesso sem precedentes no futebol feminino português. Na sua curta história alcançou o que era possivelmente inimaginável quando foi fundado. O futuro vejo-o como um desafio emocionante profissionalmente: nesta temporada deu-se o primeiro passo, que tem sido a transferência da sede para Setúbal, o que permitirá ao clube um enraizamento com a cidade, com os seus habitantes e turistas para, através do clube e da sua futura academia a ser construída, colocar o Racing Power e a cidade de Setúbal no centro das atenções do futebol feminino a nível nacional e internacional.
O Racing ganhou duas ligas (segunda e terceira divisão), foi finalista da Taça de Portugal e esteve na Final Four da Supertaça. Na minha opinião, já são grandes conquistas desportivas, principalmente pelo excelente nível dos adversários que o Racing Power teve de enfrentar. No que diz respeito a grandes competições, é preciso tempo. A lagartinha para voar e tornar-se uma linda borboleta precisa de um processo, e esse processo precisa de um plano e uma estratégia. No nosso caso os eixos estratégicos que marcam o caminho são: esperança, trabalho, ordem e, muito importante, acreditar que não somos inferiores a ninguém dentro de campo.
Com a chegada de Manolo Cano e respetiva equipa técnica, a equipa deu uma volta de 180 graus
Espetacular. Com a sua chegada e a de toda a sua equipa técnica – que aproveito para felicitar publicamente pelo seu trabalho – a equipa deu uma volta de 180 graus. Manolo, para além de um currículo inigualável, é um excelente formador e melhora a sua equipa todos os dias. A abordagem ao jogo é totalmente diferente da que tinha sido trabalhada anteriormente, pelo que estes cinco meses também o ajudaram a lançar as bases do que vai pedir à equipa no futuro. Se tivermos de avaliar o trabalho de Manolo, e de toda a sua equipa, é 10 em 10. O Racing Power pode considerar-se afortunado por ter Manolo Cano e toda a sua equipa ao leme da equipa da Liga BPI.
Vanessa Marques foi – e ainda é – uma das melhores jogadoras do futebol feminino português e para o Racing Power foi uma honra ela ter feito parte do clube. Ela é um exemplo de profissionalismo. Mas, em termos estratégicos, o clube está agora a trabalhar num projeto a cinco anos, onde a revolução da normalidade deve ser um dos nossos lemas. Estamos a apostar num plantel de jogadoras mais jovens, com fome de títulos e que queiram ser referências no futebol feminino, tal como a Vanessa já foi. Posso confirmar que as jogadoras que o Racing Power queria manter no seu plantel já estão asseguradas e agradecemos o seu compromisso com o clube.
Estamos a falar de jogadoras como Beatriz Rodrigues, Ana Nogueira, Ashley Barron, Mica (Michaely Bihina), Mafalda Barboz, Ana Assucena, Marta Ferreira, Inês Gonçalves, Aitana Montoya ou a Ana Rita. Além da excelente geração de jogadoras que vêm da formação (onde já ganharam muito) e que faz acreditar na concretização de um futuro emocionante.
O que estamos a fazer é trabalhar no processo que nos levará aos títulos com crença, trabalho e ordem… sem pressas, mas sem pausas.
Os clubes portugueses têm de construir uma frente comum para reunirem apoios financeiros de forma a podermos competir com as restantes ligas europeias de topo
O futebol feminino em Portugal apresenta um enorme potencial. Em alguns aspetos tem inovado, como a utilização do VAR na Liga BPI, ou o excelente estado da maioria dos relvados. Nisso até está à frente de outras ligas europeias. Mas se não se aproveitar este potencial, não se concretizará a evolução. É necessário investimento económico e ajuda aos clubes para criarem as estruturas para que depois consigam ser autofinanciadas e sustentáveis. Os clubes têm de unir-se. Devem construir uma frente comum para conseguirem os apoios financeiros que nos permitam competir no futuro com as restantes ligas europeias de topo. O crescimento do futebol feminino português depende de um compromisso financeiro das instituições, caso contrário as expectativas e o potencial ficarão estagnados.
Vamos tentar. É o mínimo que podemos prometer ao dono do clube, o Ismael Duarte. Vamos dar tudo e mais alguma coisa para que o investimento que ele fez, que continua a fazer e que fará… faça sentido. O futebol feminino português já deve muito ao Ismael. E aproveito para lhe agradecer por tudo o que faz pelo futebol feminino e por tudo o que faz por nós, que estamos ao seu lado. Neste aspeto gostaria também de realçar o trabalho excecional da Team Manager, Catarina Lopes, que pode fazer um trabalho na sombra, mas essencial para que tudo funcione. Muitas vezes, os que menos brilham do ponto de vista mediático são os que têm mais mérito, mas menos reconhecimento. A Catarina é de topo e com pessoas assim na equipa temos de ambicionar ao máximo.