António Carlos Vaz Martins, conhecido por Dedé, viveu no passado sábado um dos momentos mais surreais do futebol português. O avançado cabo-verdiano, de 23 anos, marcou o único golo do Marinhense na vitória por 1-0, em Peniche, mas o que aconteceu nos minutos finais tornou-se, então, viral. Após a expulsão de Framelin, guarda-redes da sua equipa, Dedé calçou as luvas e defendeu um penálti decisivo aos 90+17 minutos. Segurou a vitória com as próprias mãos e deixou os companheiros e adeptos em delírio. Ao Craques, Dedé não escondeu a alegria. Dedé Martins: “O mister disse: ‘Vais atirar-te para o teu lado esquerdo e vais defender o penálti!'”
“Era o primeiro jogo, claro que havia um pouco de frio na barriga porque não sabíamos o que íamos apanhar pela frente”, confessa Dedé sobre a preparação para a estreia no Campeonato de Portugal. Mas o nervosismo inicial rapidamente se transformou em confiança. “Entrámos bem no início do jogo e mantivemos a consistência. Foi um jogo bem disputado da nossa parte”, confessou o avançado, que já sabia que iria ter titular em Peniche.
Aos 69 minutos, Dedé teve a oportunidade de colocar o Marinhense na frente através de uma grande penalidade. “Senti um pouco de pressão, mas estava confiante. Senti que ia marcar”, recorda o avançado, acrescentando: “Era o primeiro jogo e eu tinha que fazer o golo para a equipa ganhar confiança.”
Mas o drama estava longe do fim. Os minutos finais trouxeram dificuldades para o Marinhense. “Não estávamos a defender bem. Houve momentos em que estivemos a sofrer um pouco mais porque futebol é assim mesmo. Mas durante o jogo estivemos bem”, explica Dedé sobre a pressão sofrida nos últimos minutos do jogo.
Aos 90’+13, Framelin, guarda-redes do Marinhense, recebeu ordem de expulsão por uma falta dentro da área, e o árbitro assinalou penálti para o Peniche. Com todos os suplentes já utilizados, alguém teria de ir para a baliza. “Eu fiquei normal, só que o mister chamou-me e perguntou-me se já tinha ido à baliza alguma vez. Eu disse que não e ele disse-me: ‘Vai tu para a baliza. Atira-te para o teu lado esquerdo e vais defender o penálti!’ E assim foi.”
A escolha pode ter parecido aleatória, mas Dedé não questionou: “Não estava nada à espera, mas o mister chamou-me e disse para ir eu à baliza.” Equipado com luvas emprestadas, o avançado preparou-se para um dos momentos mais importantes da sua carreira.
“Era um momento de muita pressão porque nunca tinha ido à baliza, mas senti que ia defender o penálti”, revela Dedé sobre os segundos que antecederam o momento decisivo. A intuição estava certa. Seguindo as instruções do treinador Rui Sacramento, Dedé atirou-se para o lado esquerdo e fez a defesa que selou a vitória.
“O mister é que escolheu o lado para onde me ia atirar”, confirma, destacando, então, a importância das indicações técnicas no sucesso da jogada. O apito final soou pouco depois, confirmando uma das vitórias mais dramáticas da jornada inaugural. Uma das mensagens recebidas pelo número 10 e capitão do Marinhense, vindas do treinador, foram: “Agora vais começar a treinar com os guarda-redes!”.
Para Dedé, o impacto vai, então, muito para além do resultado: “Esta vitória foi muito importante para nós. É um bom começo que traz confiança a toda a equipa.” Um início de campeonato que ficará para sempre na memória do avançado caboverdiano que, num só jogo, foi herói duas vezes. Primeiro como goleador, depois como o improvável herói que foi para a baliza segurar os três pontos preciosos para o Marinhense. Uma história, por certo, para contar aos filhos e netos!