Já lá vão oito meses desde o regresso de Renato Sanches ao Benfica e o médio já teve de parar quatro vezes devido a lesão. Nestes 143 dias em que esteve fora, já chegou à marca dos 29 jogos falhados face a esse motivo, batendo, assim, o número de jogos que esteve fora na época passada (25, na Roma).
A cada regresso de lesão, o ‘Bulo’ não se mostra como se mostrava. Aparentemente, perdeu ritmo. Não exterioriza aquilo que a cabeça lhe pede e tem-se notado a falta de capacidade física para completar 90 minutos na equipa de Bruno Lage. O ‘verdadeiro’ Renato ainda não voltou ao Benfica.
Para perceber melhor este problema das lesões musculares, o Craques falou com Filipe Castro, fisiologista da equipa principal do Vizela, da Liga Portugal 2. O profissional explica que as lesões são “multifatoriais”, e também refere que, a partir do momento em que se tem uma recidiva (reincidência de uma lesão que já teve), “a hipótese de o atleta voltar a ter a lesão aumenta 60 ou 70%”.
A recuperação é dos fatores mais importantes para prevenir futuras lesões. “É importante saber que é muito raro cumprirem-se todos os ciclos do processo de recuperação. Um jogador parado é um grande prejuízo para o clube. Em vez dos jogadores voltarem recuperados e mais fortes, os treinadores chamam-nos o mais rapidamente possível”, pormenorizou.
Por detrás das várias tentativas de retorno às boas prestações, podem estar períodos de recuperação mal cumpridos. Seja por parte de clubes, do treinadores ou dos próprios jogadores, que, muitas vezes, não fazem o “treino invisível”.
Como explicou, em exclusivo ao Craques.pt, Filipe Castro reitera que “para um jogador ter uma carreira longa e com qualidade, é preciso saber que o treino não é só chegar ao centro de treinos, tomar um bom pequeno-almoço, treinar e ir embora. O que mantém os jogadores ativos até tarde, como o Pepe, é como se tratam e levam o seu dia. Claro que ele também se divertia e tinha os seus excessos, mas é importante saber que o que leva os atletas a terem uma carreira longa é saberem tratar-se. É de manhã à noite.”
Desde que voltou à Luz, Renato Sanches foi forçado a sair da lista de Bruno Lage em quatro ocasiões. No mês de setembro, perdeu cinco jogos (34 dias de paragem); em novembro, Renato voltou a ser notícia por outra lesão muscular que o retirou dos relvados durante 45 dias, tendo perdido nove jogos. Voltou aos treinos a 3 de janeiro de 2025 mas, dez dias depois, integrou novamente a lista de lesionados, com um novo problema muscular. Este afastou-o da competição por mais 49 dias e 12 jogos, a paragem mais prolongada da época.
Já a última e atual lesão desta temporada começou na primeira semana de abril e Renato continua parado após 15 dias (3 jogos). Feitas as contas, Renato esteve ausente esta época durante 143 dias e já falhou qualquer coisa como 29 jogos.
No total, desde que começou a jogar nos séniores, em 2016, Renato Sanches já somou 882 dias de baixa, em 31 períodos distintos, e não foi opção devido a lesão em 163 jogos. Esteve, então, lesionado quase dois anos e meio, o que significa cerca de três temporadas desportivas. Este extenso período demonstra o impacto significativo das lesões na carreira do médio, limitando a sua continuidade e progressão em diferentes clubes.
Quase todas estas lesões têm um padrão preocupante. São de natureza muscular, algo que dá que pensar. Esta época, o médio ainda só fez 45 ou mais minutos em quatro jogos: Moreirense 1-1 Benfica (45′); Benfica 3-0 Santa Clara (45′); Bayern 1-0 Benfica (86′) e Benfica 3-2 Farense (45′).
Estes dados ilustram a dificuldade de Renato Sanches em manter a intensidade exigida ao longo de 90 minutos, um fator crucial no futebol de alta competição. “Recaída a recaída… se estás lesionado de uma coisa aumentas a chance de voltar a sofrer a mesma lesão”, esclarece Filipe Castro.
A predominância de lesões musculares, particularmente na zona das coxas, levanta questões sobre possíveis desequilíbrios, sobrecarga ou até mesmo a forma como as recuperações anteriores foram conduzidas.
Hoje em dia já existem sistemas de GPS para monitorizar as refeições e os diferentes exercícios dos atletas no clube. Mas esse controlo é diminuto, segundo Filipe Castro. “Também é importante perceber que só controlamos os jogadores por duas ou três horas, e mesmo assim não controlamos muito. Nem sempre o fazemos de forma minuciosa nesse período. E, depois disso, não os controlamos. É muito difícil conferir o que fazem fora do clube”, avisa.
Foram desenvolvidas estratégias para que, por exemplo, as rotinas pré-jogos, como os estágios, sejam mais controlados. “Por que é que se fazem os estágios? É para tentarmos controlar os atletas, e mesmo assim nunca vai ser perfeito. Quando muito nem que seja só na refeição da véspera do jogo”, explicou. A razão pela qual estas estratégias foram criadas estará no facto de muitos profissionais não cumprirem esse desígnio durante todo o dia.
Se o regresso de Renato Sanches ao Benfica aumentou a expetativa dos adeptos encarnados, a verdade é que a produtividade do médio, de 27 anos, esta época tem ficado muito aquém do esperado, principalmente por parte dos responsáveis do clube.
O técnico Bruno Lage tem procurado, dentro do possível, fazer regressar Renato à competição por períodos curtos após as lesões que tem contraído, de forma a que uma recaída não volte a travar o reaparecimento do internacional português.
Contudo, só mesmo uma segunda época poderá mostrar se o ‘verdadeiro’ Renato regressa ao Benfica de vez para ser feliz. Segundo as últimas informações, o clube liderado por Rui Costa pretende renegociar as condições do empréstimo de Renato com o PSG, por forma a que o jogador da cantera encarnada possa ter espaço e tempo para voltar a fazer o que mais gosta.
Embora haja no acordo de empréstimo uma cláusula de opção de compra situada nos 10 milhões de euros, o que transparece é que o Benfica prefere obter uma nova cedência para que, daqui a um ano, a aposta em comprar esteja mais sustentada no desempenho que Renato Sanches venha a apresentar em 2025/26. É que o atual Renato ainda está muito longe do ‘verdadeiro’ Renato que encantou a Luz na época 2015/16…