CRAQUES – No início da temporada, supondo a possível promoção, já tinham previsto abdicar da subida ao Campeonato de Portugal ou foi uma decisão recente?
FÁBIO SANTOS – Não, o plantel foi, de grosso modo, a base que vinha de trás. Portanto não, não estava em cima da mesa abdicar de rigorosamente nada. Efetivamente, quando se começou a tentar preparar para o Campeonato de Portugal, a partir de janeiro ou fevereiro, houve muitas conversas com a própria Câmara Municipal, junto da Federação Portuguesa de Futebol. Agora há processos de certificação e de licenciamento mais exigentes. Dizem que há campos bem piores que o nosso, e que ‘A’ ou ‘B’ também não têm as medidas e andam lá. Portanto isto também faz sempre aqui criar algumas dúvidas se será mesmo possível: ‘O que é que se pode fazer? Para onde é que vamos? Para onde é que caminhamos?’
Agora, em julho de 2024, se calhar todos nós acreditámos que as pequenas obras necessárias, que têm um custo de 300 ou 400 mil euros para fazer o mínimo possível, se iriam fazer. Com o arrastar do tempo percebeu-se que, de facto, não havia timing para ser feito. Com infraestruturas novas quem sabe senão voltaremos a ter o Ferreira do Zêzere campeão e, aí sim, subir ao Campeonato de Portugal, mas acho que acima de tudo devem prevalecer as conquistas e a dobradinha conquistada este ano, depois da conquista da Taça do Ribatejo, o ano passado. Acho que isto é o que fica e é o que deve agradar aos adeptos.
Para além da questão do estádio, existiram outros fatores, como a sustentabilidade financeira ou a estrutura organizacional, que influenciaram a decisão de não subir de divisão? Como é que o clube planeia garantir a sua estabilidade a longo prazo?
À volta do estádio vem, então, tudo o resto. Mas a sustentabilidade financeira e a estrutura organizacional prendem-se muito com o ter de ser em Ferreira do Zêzere. Porque ser fora de Ferreira, custaria cerca de 30 mil euros a mais e ia ser incomportável. Já é difícil subir e angariar mais 50 mil, mas com o esforço da autarquia, dos patrocinadores, dos nossos sócios e amigos do clube seria possível. Fazê-lo fora de Ferreira de Zêzere tenho a certeza que seria impossível. E, portanto, é algo muito perigoso para se brincar que é a estabilidade financeira do clube. A nível de estabilidade a longo prazo, vamos continuar a apostar na formação, na tentativa de que os nossos jovens valorizem cada vez mais as oportunidades que o clube lhes dá e de voltar a ter bases sólidas.
Considerando o sucesso desportivo alcançado com a conquista do campeonato distrital, qual o impacto desta abdicação na equipa técnica e nos jogadores? Houve alguma tentativa de retê-los ou de compensá-los por esta decisão?
O impacto na equipa técnica e jogadores foi, acima de tudo, positivo pela conquista. É claro que há alguns, muitos deles, que queriam subir – e é o grande sonho jogar num campeonato nacional. E quem sabe, se alguma vez vão voltar a ter esta oportunidade. Devemos ser gratos e tem que ser recíproco. Nós gratos aos jogadores, e acredito que os jogadores também gratos ao clube por esta oportunidade de conquistarem algo tão grande.
Diria que o facto de a equipa técnica ter saído nada teve a ver com termos abdicado do Campeonato de Portugal. Mas sobretudo com esta incerteza de jogarmos na primeira ou segunda distrital. É naturalmente expectável, não é? Um campeão cair nesta incerteza de jogar a segunda distrital é difícil de gerir. E acima de tudo por isso, porque a vontade da maioria dos jogadores, e sobretudo da equipa técnica, com quem já tinha e continuarei a ter uma relação especial, seria continuar na Ferreira do Zêzere e equacionavam seriamente fazê-lo se fosse para jogar a primeira distrital. Para ser a segunda distrital, é algo naturalmente mais difícil.
A imprensa tem especulado a possibilidade de o clube ser punido com a despromoção para a segunda divisão distrital. Como é que o clube está a preparar-se para enfrentar esta eventualidade e que medidas legais ou desportivas estão a ser consideradas para contestar ou mitigar essa punição?
Sim, é uma realidade, que pode estar em cima da mesa. Vamos preparar-nos para o pior cenário, que é ter uma equipa para disputar a Segunda Distrital de Santarém, sabendo que teremos no final de agosto a disputa da Taça de Portugal. Até à data de hoje ainda não há uma decisão. O nosso advogado diz-nos que a razão está do nosso lado e que não faz sentido obrigar um campeão a descer de divisão. É difícil de compreender.
Existe um plano para investir na melhoria das infraestruturas do clube?
O esforço financeiro de jogar um campeonato nacional só faria sentido em Ferreira do Zêzere, até porque, de outra forma, não iríamos ter retorno financeiro com o bar e a bilheteira. Mas as obras necessárias, que têm um custo de 300 ou 400 mil euros, nunca arrancariam antes de janeiro ou fevereiro de 2026. Isso fez-nos pensar com frieza, com pés no chão, e acreditamos, então, que foi a melhor decisão para o futuro e estabilidade do clube. Acreditamos que sirva para despertar consciências e abrir horizontes no concelho de Ferreira do Zêzere. De forma a criarem condições do Campo Eng. Lopo de Carvalho, incluindo o pavilhão desportivo. Para o desenvolvimento do desporto jovem.
Para além das questões imediatas, qual é a visão a longo prazo do clube para o seu desenvolvimento desportivo?
Acima de tudo continuar a apostar na formação, na tentativa de que os nossos jovens valorizem cada vez mais as oportunidades que o clube lhes dá. Com tão pouco temos feito muito, e acredito que na generalidade das associações desportivas ou ligadas ao desporto em Ferreira do Zêzere merecemos mais e é para aí que temos de caminhar. Nós não vamos morrer, vamos continuar.
Considerando a incerteza sobre a divisão em que irá competir, quais são os próximos passos do clube?
Se formos para a segunda distrital, terá de ser, então, um ano zero – de estabilização – para voltarmos a subir num ano imediatamente a seguir. Se for a primeira distrital, queremos lutar pela manutenção e aguardar as tão esperadas obras. Depois, veremos as condições que há para lutar novamente por um título distrital. Temos a consciência tranquila e aguardamos serenamente. Lamentamos o demorado tempo de espera, mas cá estaremos para decidir fazer o melhor pelo Sport Clube e pelos adeptos que tanto amam este clube e esta terra.